Há um filme antigo estrelado por John Travolta chamado “Fenômeno”. Adoro esse filme! Nele, George, interpretado por Travolta, adquire uma inteligência fora do comum após um evento estranho.
Em uma das cenas mais memoráveis do filme, George é “testado” por um médico que tenta determinar se ele realmente é um fenômeno ou uma aberração.
Você já se perguntou como pequenos detalhes podem alterar completamente a percepção de uma situação?
Bob: Responda o mais rápido que puder. Que idade tem uma pessoa nascida em 1928?
George: Homem ou mulher?
Bob: Por que isso é importante?
George: Temos que ser específicos, Bob.
Bob: Ok, mais uma vez. Que idade tem um homem nascido em 1928?
George: Ainda vivo?
Bob: Se um homem nasceu em 1928 e ainda está vivo, que idade ele tem?
George: Em que mês ele nasceu?
Bob: Se um homem nasceu em 3 de outubro de 1928 e ainda está vivo, que idade ele tem?
George: A que horas?
Bob: Às 10 horas… Da noite!
George: Onde?
Bob: Em qualquer lugar.
George: Vamos ser específicos, Bob. Se o cara ainda está vivo, nasceu na Califórnia em 3 de outubro de 1928 às 22 horas, ele tem 67 anos, 9 meses, 22 dias, 14 horas e 12 minutos. Se ele nasceu em Nova Iorque, é 3 horas mais velho.
Essa cena ilustra de forma poderosa duas lições importantes:
- sem detalhes suficientes, até uma pessoa extremamente inteligente pode fornecer uma resposta diferente da esperada e, ainda assim, estar correta.
- Algumas vezes, mesmo o que parece ser exagero de detalhes, deixa brechas para interpretações e enganos.
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Recentemente, tenho me esforçado para fornecer cada vez mais detalhes ao especificar o que precisa ser feito em projetos.
Quando estabeleço uma meta, faço o possível para que ela seja SMART. No entanto, ainda recebo entregas que não correspondem ao que esperava. Será que o problema está nos detalhes ou na forma como são interpretados? Será que mais detalhes ajudam ou atrapalham? Se eles não fazem diferença positiva, vale a pena continuar me esforçando para fornece-los?
Na tentativa incessante de fazer sempre o correto, de ajudar o outro a acertar, tento ser mais específico e fornecer mais detalhes. Quanto mais detalhes, maiores as chances de a pessoa entregar exatamente o que eu esperava. Mas, muitas vezes, detalhes demais não só não resolvem como também são fonte de confusão. “Mais informações” nem sempre equivale a “melhores resultados”.
O que tem ficado mais claro para mim é que, sim, vale a pena ser o mais claro possível sobre o que espero. Entretanto, também tem ficado cada vez mais claro que, independente dos meus esforços, sempre pode haver algo faltando. Pessoas diferentes interpretam uma mesma informação de maneira diferente. As vezes, de maneira completamente diferente!
De vez em quando, as pessoas vão me entregar algo diferente do que eu espero. Tudo bem. Precisa estar tudo bem! Vemos o mundo sob perspectivas diferentes. Interpretamos coisas diferentes, para uma mesma questão. Isso é normal.
O segredo está em aprender a aceitar isso. Alinhar expectativas, sim. Mas, principalmente, aprender a lidar da melhor forma possível com as frustrações. Afinal, como podemos crescer se não estivermos prontos para enfrentar o inesperado?