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Você já jogou basquete sem contar os pontos? Eu já tentei, mas deixa eu te dizer: não vale a pena. O jogo perde a graça.

Na verdade, dizer que fica “sem graça” talvez seja um exagero. Mas o fato é que tudo se torna muito mais interessante com um placar. As fintas audaciosas e os arremessos arriscados que falham têm suas consequências. É bem mais fácil agir com menos responsabilidade quando o preço a pagar é baixo.

A presença do placar, a noção de estar ganhando ou perdendo, muda tudo.

Pôquer, por exemplo, é um jogo completamente diferente quando as apostas são grãos de feijão, outro quando são centavos e, finalmente, algo bem distinto quando se trata de dinheiro de verdade. As regras são as mesmas, mas o jogo é totalmente outro.

Uma vez vi Rogério Ceni, ex-goleiro do São Paulo e hoje treinador, treinando cobranças de falta durante o intervalo de um jogo, aqui no Rio Grande do Sul. A performance dele era incrível. Cobranças certeiras, todas “no ângulo”. A torcida da casa, obviamente, vaiava cada cobrança, mas nem por isso deixava de se admirar com a precisão do cara. Mais tarde, no jogo, ocorreu uma falta para o São Paulo, exatamente na posição em que Ceni estava treinando. Ele atravessou o campo, pegou a bola. A torcida já considerava o gol certo para o São Paulo. Mas Ceni isolou, jogando a bola muito longe. Alívio para a torcida e uma lição para mim: até mesmo os mais preparados podem falhar sob pressão.

O tamanho da aposta redefine o jogo. Impõe limites ao comportamento. São as emoções que distinguem a teoria da prática.

Quando o placar é evidente, quando fica claro quem está ganhando e quem está perdendo, transformamos fatos em argumentos. O subjetivo cede um pouco mais de espaço para o objetivo. Aliás, “objetivo” é o que se torna mais evidente, mais alinhado, quando há um placar.

Aliás, fatos, dados — eles nunca contam a história toda, mas sempre complementam a história muito bem. Estudos sobre comportamento humano indicam que pessoas tendem a assumir riscos maiores e a agir com maior cautela quando sabem que estão sendo avaliadas ou comparadas, mostrando como o placar afeta nossa psicologia.

Da série “Lições que aprendi mas que já sabia”, eis o mais novo episódio: “a qualidade do jogo é definida pela qualidade do placar.”

Na empresa, na vida, eu explico de novo e outra vez o que estou tentando fazer. Estou compartilhando o propósito? Não! Só há propósito definido quando há um placar. Em contextos corporativos, por exemplo, metas claras e sistemas de feedback não apenas orientam, mas também motivam os funcionários, demonstrando que sem um “placar” definido, as metas podem parecer distantes ou irrelevantes. O placar não é apenas uma medida de progresso, mas um facilitador de engajamento e sentido no trabalho que realizamos.

29/04/2024
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