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Desenvolvo software há décadas e, de tempos em tempos, tanto o que esperam de mim quanto a forma como faço meu trabalho parecem mudar completamente. Isso me assusta e, às vezes, quase me desanima.

Uma das minhas especialidades é a arquitetura de software, e sou reconhecido por ser bom no que faço. No entanto, confesso que, com a chegada da IA, estou vendo o jogo mudar.

Por muito tempo, acreditei e defendi que o arquiteto de software não precisava, necessariamente, escrever código. Afinal, as atividades de orquestração do trabalho e de intermediação entre o negócio e a área técnica consumiam quase todo o tempo. Mas agora tudo mudou. Com a IA, ficou mais rápido mostrar algo “rodando”, que serve como uma boa referência, do que produzir documentação em alto nível. Eu mesmo, que não sou um “cara de frontend”, tenho conseguido construir interfaces bem razoáveis com a IA e guias de estilo consolidados. A IA é um “programador júnior dos bons”, daqueles que escreve código de qualidade e está “em dia” com as novidades das principais bibliotecas e frameworks (coisas que, confesso, não tenho mais tempo, disposição ou paciência para acompanhar).

Documentação, hoje, tem um novo significado para mim. Sempre defendi o registro das decisões como uma atividade fundamental. Durante muito tempo, escrevi documentação para que eu e o time lembrássemos do que era importante. Agora, escrevo para que a IA compreenda o que espero. Isso me ajuda a validar se o que foi decidido está sendo respeitado no código. Em alguns casos, a documentação serve para que a IA faça os ajustes necessários e coloque tudo nos trilhos.

Há anos, eu acreditava que o time ideal deveria ter sete pessoas, seguindo a famosa regra das “duas pizzas”. Com a IA, percebo que, na prática, um bom time funciona bem com 3 ou 4 pessoas, no máximo. As atribuições mudaram, e a organização do trabalho também.

Com base me que digo tudo isso? Na minha experiência, estou vivendo essa transformação diariamente. Trabalho com o apoio da IA todos os dias, há mais de um ano. Como muitos, no início resisti; depois, fiquei assustado e tentei apontar o que ainda parecia não funcionar. Aos poucos, aceitei e entendi. Hoje, sei que estamos em um ponto de inflexão. Não há mais volta, pois a maneira como trabalhamos e colaboramos nunca mais será a mesma. A IA não apenas mudou processos, mas redefiniu o que significa ser produtivo e criativo no trabalho.

Acredito que é hora de compartilhar aprendizados e abrir caminhos para quem está começando essa jornada. Vamos falar mais sobre isso?

15/01/2025

Sabe aquela expressão “vi com meus próprios olhos”? É bom você saber que ela não é assim tão precisa.

Seu cérebro, e o meu também, não usa os olhos para “ver” o mundo. Na verdade, os olhos são só uma fonte de informações. O mundo que vemos é, na verdade, uma espécie de quadro pintado em nossos cérebros com base nas informações que ele recebe, inclusive dos olhos.

Sim. O que estamos “vendo” nunca é o que de fato existe lá fora. É sempre algo indireto, como se estivéssemos vendo uma cena a partir de uma pintura na parede. Mas, você está tão acostumado com isso que não se dá conta.

Essa “pintura” mantida em nossos cérebros não é estática. Na verdade, é atualizada com uma frequência assustadora, de tempos em tempos, para refletir algo que nossos olhos conseguiram “capturar”. Mas, é bom que saibamos que, por pura economia de energia, nem tudo que nossos olhos capturam é, de fato, percebido pelo cérebro e colocado na pintura. Resultado? Tem coisas que estão ali, o tempo todo, mas você não “vê”.

Só é percebido o que nosso cérebro considera relevante. Ele não “perde tempo” pintando aquilo que acha que não importa. E o que consideramos relevante depende de um bocado de coisas que cada um de nós mantém em seu repertório (conjunto de conhecimentos, vivências, experiências).

Olha só que curioso. Pessoas diferentes, com repertórios diferentes, invariavelmente vão atribuir relevâncias também diferentes para o que os olhos capturam. Logo, embora todos capturemos as mesmas coisas, percebemos coisas diferentes. Assim, os quadros pintados por nossos cérebros recebem também atualizações diferentes.

Assim, algo que “salta aos olhos” para um pode acabar sendo simplesmente ignorado por outro. O que é presente para um é ausente para o outro. Tudo isso de maneira inconsciente.

O que fazer?

  1. Para começar, aceite a ideia de que o que você percebe é sempre uma pintura da realidade, daquelas bem realistas, mas, mesmo assim, pinturas.
  2. Sua pintura é sempre incompleta, parcial.
  3. Sua pintura vai ser sempre diferente da pintura do outro, daí, maior o desafio para compreensão e maior a demanda por empatia.

É assim que a gente funciona. É bom saber dessas coisas.

14/01/2025

Como anda o seu tempo? O meu parece cada vez mais curto. Ultimamente, tenho pensado cada vez mais sobre o que devo fazer e o que não devo fazer, e acredito que a forma como tenho usado o meu tempo pode te ajudar a usar melhor o seu.

Olha só, em um mundo onde tudo parece estar ficando meio parecido, são as nossas diferenças que nos destacam. O que eu faço diferente é o que tem potencial de me tornar especial, desde que seja, claro, algo útil, que só eu posso oferecer. Vale para mim, vale para você também.

Se é assim, é meio óbvio que você e eu deveríamos concentrar nosso tempo, e também nossa energia, nisso, evitando desperdícios com aquilo em que somos comuns, só mais um pouco do mesmo.

Sendo prático, deixa eu te dizer três coisas que eu fiz e que acho que você deveria fazer também:

  1. Listar aquilo que só você faz.
  2. Listar o que você faz que cria valor de verdade.
  3. Encontrar a interseção entre as duas listas.

Nessa terceira lista deveria estar o seu foco. O resto é o resto.

13/01/2025

Se há algo que tenho visto aqui na Áustria nos últimos dias, são montanhas. Gigantescas e imponentes. Nessa época do ano, estão todas cobertas de neve.

Modéstia não é uma das minhas forças. Mas é fácil lembrar como sou pequeno diante dessas montanhas. Elas não são opressoras, mas confesso que, ao contemplá-las, às vezes me sinto oprimido.

Hoje, estive no alto de uma delas. Tão alto que cheguei ao cume de “bondinho” depois de vários minutos de viagem. Lembrei do ensinamento de Cristo registrado em Mateus 17, que diz que bastaria uma Fé do tamanho de um grão de mostarda para mover qualquer montanha.

Nunca deixo de me surpreender com a didática do mestre. Aqui, Ele escolheu uma das menores sementes para confrontar uma das maiores manifestações físicas da criação.

No alto da montanha, comecei a pensar sobre a Fé. O que é a Fé?

A Fé, Paulo ensinou, é o firme fundamento do que se espera e a prova daquilo que não se pode ver. Imagine um agricultor que planta uma semente sem ver o que há debaixo da terra, mas acredita firmemente que, em algum momento, ela germinará. Assim é a Fé: acreditar naquilo que não vemos, mas esperamos com confiança.

A Fé, Tiago ensinou, é persistente e ativa. Sem ação, a Fé é morta. A Fé é chamar à existência algo que ainda não existe como se já existisse. Sem dúvidas. Aliás, é interessante que até mesmo Deus manifesta Fé em Gênesis, pois em toda a narração da criação Ele primeiro chamou as coisas para que elas então existissem (como em “Que se faça a luz e a luz se fez”).

Voltando à montanha e à mostarda, tenho eu Fé? Poderia eu mover a montanha? Só por perguntar, percebo que a que tenho ainda é suficiente. Humildemente reconheço que até a mostarda não tem nada de pequena e que também precisa ter a sua. “grandeza” reconhecida. Quanto a mim, o jeito é continuar avançando.

Que eu a desenvolva então, de maneira ativa, não para mover montanhas da Áustria ou de lugar algum, mas para mover a mim mesmo. Que essa Fé me permita transformar meus dias, enfrentar desafios cotidianos e ser uma versão melhor de mim a cada dia.

Para todo lugar que olho, vejo montanhas. Acho que é hora de procurar por mais sementes de mostarda. Um passo de cada vez!

24/11/2024

Por que Salomão pecou?

Essa é uma pergunta difícil de responder, afinal, Salomão, filho de Davi, conhecido por sua grande sabedoria e por ter governado Israel durante um período de paz e prosperidade, recebeu de Deus as dádivas da sabedoria e da riqueza. Conforme as escrituras, nunca haveria homem mais rico, tampouco mais sábio.

Ainda assim, Salomão pecou. Por quê?

Muitos crentes diriam que o que levou Salomão ao pecado foram as mulheres. Salomão teve 700 esposas e 300 concubinas, muitas delas estrangeiras. Segundo os “crentes”, essas mulheres, sendo estrangeiras, levaram Salomão a adorar outros deuses. Particularmente, considero isso pouco provável, pois acredito que a sabedoria de Salomão o teria prevenido de ser facilmente influenciado, especialmente em questões de fé e adoração.

Salomão era versado em botânica e entendia de química, logo, suponho eu, conseguia produzir substâncias alucinógenas ou medicinais como bem entendesse. Acredito, inclusive, que ele tenha feito isso.

Salomão também foi escolhido por Deus para construir o primeiro templo, e, quando orou, fogo caiu do céu como sinal da aprovação divina. Esse evento demonstrava que Deus aceitava o sacrifício e a dedicação do templo, representando um momento de confirmação espiritual e da presença de Deus entre o povo de Israel. Quando Salomão clamava, Deus respondia de forma inequívoca, não apenas de maneira discreta.

Mas, voltando à questão inicial, por que Salomão pecou?

Certa vez, perguntei isso a um bom amigo. A resposta dele veio rápida, como se fosse a expressão de um tema já há muito pensado e uma questão há muito respondida. Segundo meu amigo, Salomão pecou por solidão.

Salomão estava só e sentia-se só, pois, apesar de toda a sua riqueza e sabedoria, não encontrava companheirismo verdadeiro. Sua posição e responsabilidades o isolavam dos outros, e essa solidão constante o levou a buscar consolo em caminhos que acabaram por afastá-lo de Deus. Os conselheriros de Salomão aconselhavam-se com ele. Certa vez, ele disse que, entre mil homens, encontrou um (ele mesmo, creio eu). Entre mil mulheres, nenhuma.

A solidão pesa, e talvez meu amigo esteja certo. Acho bem provável que a solidão tenha sido a causa verdadeira pelo qual Salomão pecou.

21/11/2024

Ontem, fiz uma viagem de Viena a Salzburgo. A paisagem era deslumbrante: montanhas cobertas de neve ao fundo e vilarejos encantadores ao longo do caminho. O Waze foi meu guia.

Hoje em dia, não consigo mais andar sem o Waze. Essa dependência, porém, me preocupa.

Não me entenda mal: sistemas de GPS são essenciais e revolucionaram o turismo. Com um GPS, encontramos pontos turísticos escondidos, trilhas pouco conhecidas e restaurantes locais. Se errarmos uma rota, temos orientação imediata. Podemos explorar lugares desconhecidos sem depender de mapas de papel ou da boa vontade de estranhos.

Lembro-me bem de como era quando sistemas de GPS não eram comuns. Uma vez, em Porto Alegre, lembro-me de passar horas, como passageiro, atrapalhado com um mapa de papel, tentando chegar a um shopping. A situação era ainda mais difícil em São Paulo, onde avenidas mudam de nome do nada.

Liberdade, entretanto, não dispensa cuidados. Confiar cegamente no GPS pode nos colocar em situações complicadas. Além de rotas indesejadas, podemos acabar em caminhos mais longos ou até em áreas de risco. Já foi pior no passado, mas ainda é um problema. Ontem, quase fui vítima desse descuido.

Aqui na Áustria, o pedágio funciona de forma diferente. Não há cancelas visíveis. Tudo é digital, com etiquetas fixadas nos para-brisas dos carros (o Rio Grande do Sul está adotando um sistema similar). Funciona como a cobrança automática no Brasil, mas aqui as tags não são opcionais. Ou melhor, são — e esse é o problema.

Ao usar o Waze na Áustria, ele pergunta se você tem a etiqueta de pedágio. Se não tiver, ele sugere uma rota alternativa, que funciona, mas leva mais tempo. Ontem, por não conhecer bem a configuração do Waze, respondi que não tinha a etiqueta e fui direcionado para uma rota que levaria cinco horas, em vez de três pela rota pedagiada.

Comecei a viagem, mas logo estranhei o tempo exagerado e os belos caminhos entre cidadezinhas, bem longe das rodovias menos pitorescas, porém mais rápidas. Casas coloridas, ruas estreitas, campos verdejantes. Resolvi verificar o que havia de errado. Achei. Foi por pouco.

Se eu tivesse simplesmente aceitado o caminho proposto pelo Waze, teria viajado muitas horas a mais. No Google Maps, nem consegui encontrar opção para informar que tinha a tal etiqueta; logo, invariavelmente faria o caminho mais lento.

O Waze é ótimo. O Google Maps também. Eles nos dão liberdade, mas exigem cuidados. É preciso sempre verificar as rotas sugeridas, evitar desvios desnecessários, prestar atenção em restrições locais e ter uma noção geral do caminho e de como as coisas funcionam em cada lugar.

Você não pode desligar o cérebro.

21/11/2024