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Você já se perguntou por que tantas pessoas dizem que não têm tempo? Frequentemente ouvimos as pessoas dizerem isso. “Falta de tempo” é a justificativa comum para tantas coisas que deixamos de fazer. Porém, muitas vezes, essa falta de tempo nada mais é do que a expressão da falta de prioridades claras e bem definidas. Afinal, se um recurso — como o tempo — é escasso, é necessário gerenciá-lo, e disso trata a economia. No entanto, quando se trata de tempo, essa gestão não é tão simples assim.

Drucker, considerado o pai da administração moderna, ensina que de todos os recursos escassos, o único que é escasso de verdade é o tempo. O dinheiro, outro recurso frequentemente assumido como escasso, na prática, é abundante. Para a maioria dos que não o tem, o dinheiro, o que falta é uma abordagem certa para “capturá-lo”.

O tempo, por outro lado, esse é escasso de verdade. Primeiro porque não é estocável. Então, limitado que é, precisa ser gerenciado. Aliás, se a economia é a ciência para lidar com o escasso, então, é coerente pensar em uma “economia do tempo”. 

Costuma-se dizer que o tempo é igual para todo mundo, mas isso não é totalmente verdadeiro. O tempo, aprendi, possui pelo menos duas medidas associadas: a duração e a intensidade, e nem todo tempo é igual. A duração é algo objetivo, mensurável e comum para todos. Neste mundo, onde a velocidade física é praticamente a mesma para todos, um minuto é sempre um minuto. Contudo, a intensidade é diferente — é particular não só de cada pessoa, mas também de cada momento.

Pense na espera de dez minutos por alguém especial. Para quem espera com ansiedade, esses dez minutos parecem uma eternidade. Mas os dez minutos seguintes, depois do encontro, passam como se fossem segundos. Agora pense em uma reunião importante no trabalho: os dez minutos antes da apresentação podem parecer intermináveis, enquanto os dez minutos durante uma discussão empolgante sobre um projeto passam voando. O que mudou? Não foi a duração, foi a intensidade do momento. O que mudou? Não foi a duração, foi a intensidade do momento. Esse exemplo nos faz perceber que um dos segredos para uma gestão eficiente do tempo está justamente no entendimento da intensidade.

Colocar mais intensidade no tempo faz o tempo render mais. Isso pode ser feito através de práticas de mindfulness, como respirar profundamente e focar no momento presente, ou desligando distrações digitais para manter a atenção plena nas atividades importantes. Mais presença no momento presente. Viver sem intensidade, ausente do presente, é, literalmente, um desperdício de tempo. Para perceber se você está vivendo sem intensidade, observe se os dias passam sem deixar marcas significativas, se há uma sensação constante de apatia ou se as atividades cotidianas parecem perder o sentido. A falta de entusiasmo e o sentimento de que o tempo apenas passa são sinais claros de que a intensidade está ausente.\

A duração pode ser a mesma para todos, mas a intensidade é o que faz a diferença entre simplesmente passar pelo tempo e realmente vivê-lo.

30/10/2024

Já reparou como tudo o que fazemos sem enxergar um valor intrínseco logo se torna um “fardo”?

Quando uma atividade é apenas um meio para se chegar a outro lugar, largamos essa atividade assim que surge um caminho mais fácil. É um “peso a menos”. O problema é que é quase impossível fazer bem feito aquilo que encaramos como um peso. Também é muito difícil encontrar prazer em algo que vemos apenas como uma carga. Ninguém gosta de “pedágios”.

Outro dia, enquanto ainda refletia sobre essa ideia, assisti ao ensaio de Jonas Kaufmann para Nessun Dorma. Era “apenas” um ensaio, mas a entrega dele e a satisfação visível em suas reações à orquestra primeiro me emocionaram e, em seguida, me fizeram pensar. Ele não estava apenas ensaiando; estava completamente presente e realmente cantando, vivendo cada nota. Kaufmann parecia guiado pelo valor intrínseco daquilo que fazia, e não por um resultado ou uma audiência.

Depois, assisti a um vídeo de Pavarotti interpretando a mesma ária. Não sei quantas vezes ele já cantou Nessun Dorma, mas há dezenas, talvez centenas de gravações dele no YouTube. Mesmo fazendo isso há décadas, sua entrega em cada registro impressiona. Gênio! Naquele vídeo, em especial, ele estava plenamente entregue, absorvido pela própria música, e isso ficou ainda mais claro em suas reações ao final. Ali estava alguém que fazia algo por paixão, pelo valor profundo e verdadeiro daquela atividade. Pavarotti, assim como Kaufmann, estava conectado com o que fazia, e essa conexão conferiram unicidade a esses dois momentos que definitivamente se afastam da rotina, do descartável.

Quando, por exemplo, estudamos apenas para garantir um emprego melhor, o estudo logo vira uma atividade chata e desgastante, que exige mais esforço do que o necessário. Quando o estudo não é valorizado pelo aprendizado em si, ele se torna um peso. A mesma lógica vale para os exercícios físicos: se a única razão para fazer é manter ou melhorar a forma, a prática rapidamente se esvazia. Quem não encontra prazer e finalidade direta na atividade acaba por abandoná-la ao primeiro sinal de oportunidade.

O trabalho também não foge dessa regra. Se trabalhamos apenas para ganhar dinheiro e fazer coisas fora dali, o trabalho sempre será um peso. Sem perceber valor intrínseco no que fazemos todos os dias, o trabalho se torna uma simples troca de tempo e energia por dinheiro, se afastando da nossa satisfação. Torna-se algo enfadonho e nos faz esperar a “hora feliz”, geralmente nas sextas, depois do que se deduz foi uma “semana menos feliz”.

É por isso que se torna tão difícil sermos bons em algo se não enxergamos valor real naquilo. Esse valor é o que nos leva a ir além do mínimo, a nos dedicar de verdade e a crescer. O primeiro passo para fazer algo melhor é aprender a valorizar a própria atividade, independentemente do que ela possa trazer. Quando encontramos sentido no que fazemos, pelo simples prazer de fazer, nossa motivação é mais genuína, o processo mais leve e os resultados mais consistentes.

A chave, então, está em mudar o foco. Quando passamos a valorizar o que fazemos pelo próprio prazer de fazer, transformamos obrigações em escolhas e pesos em fontes de satisfação.

26/10/2024

Lembro-me do filósofo que chorava ao ver um rio, não por causa de sua beleza, mas porque sabia que nunca mais veria aquele mesmo rio novamente. A água que passava diante dele, por mais que parecesse a mesma, era outra a cada instante. Assim como ele, também olho para mim e percebo que não sou mais a mesma pessoa de antes. Essa mudança, que é inevitável, não me faz gostar mais da versão atual de mim do que daquela que existia antes. Pelo contrário, de certa forma, choro como o filósofo, por não ser mais quem fui, por deixar algo de mim para trás ao longo do caminho.

Nas minhas relações, percebo que, assim como mudei, as expectativas ao meu redor também mudaram. Às vezes, sou cobrado por carências que antes eu supria naturalmente, e que, agora, por causa das transformações pelas quais passei, já não consigo atender da mesma forma. Do mesmo modo, também busco nos outros o atendimento de carências que eu agora tenho, e que antes não faziam parte de mim. Esses desencontros revelam como as mudanças pessoais impactam diretamente os relacionamentos, e como é difícil conciliar quem somos hoje com as expectativas do outro, que ainda se lembra de quem fomos.

Infeliz daquele que depende do outro para ser feliz. A dependência emocional cria uma prisão invisível que limita nosso crescimento e autonomia. Quando baseamos nossa felicidade na presença ou validação de outra pessoa, deixamos de ser protagonistas da nossa própria vida e nos tornamos reféns de algo que não podemos controlar, o que inevitavelmente gera sofrimento e frustrações. A verdadeira autonomia emocional exige que encontremos dentro de nós a fonte de nossa felicidade, sem depender exclusivamente do outro para nos sentir completos. A felicidade genuína, como apontado por Alfred Adler, não pode ser encontrada em relações verticais, onde há superioridade ou inferioridade. Quando nos colocamos acima ou abaixo do outro, surgem problemas. Ao depender do elogio ou da crítica, nos colocamos em uma posição de submissão, esperando a validação externa para definir nosso valor. Da mesma forma, quando elogiamos ou criticamos com o ímpeto de corrigir o outro, assumimos uma posição de superioridade, o que também desestabiliza as relações. A verdadeira felicidade reside em estar “ao lado”, em relações horizontais, onde há igualdade, respeito mútuo e colaboração, sem a tentativa de controlar ou ser controlado.

A modernidade, com sua facilidade de conexão e suas múltiplas formas de relacionamento, torna tentador e fácil estabelecer e manter relações que rapidamente se convertem em cativeiros afetivos. Essas relações, inicialmente promissoras, podem facilmente se transformar em prisões emocionais quando há a dependência mútua ou o desejo de controle. Se uma relação se desenvolve nesse sentido, ela precisa ser redefinida. E, se a redefinição não se mostrar possível, o encerramento, por mais doloroso que seja, se torna uma necessidade. Prolongar uma relação que nos aprisiona apenas perpetua o sofrimento e bloqueia o crescimento pessoal e emocional.

Quem nós somos pode ser explicado pelos valores que queremos desenvolver ao longo da vida e pela intensidade com que buscamos isso. Os valores que cultivamos nos moldam, e é esse processo constante de busca e transformação que nos define. O desafio é manter nossa identidade em constante evolução sem permitir que ela se perca ou se dilua nas expectativas e demandas externas. O equilíbrio entre quem somos hoje e o que desejamos nos tornar é o que dá profundidade às nossas relações e nos mantém firmes em meio às mudanças da vida.

A vida afetiva tem sua regra: só podemos dar de nós o que de nós já conquistamos e dispomos. A transferência implica em posse; ninguém pode dar o que não tem, por mais que queira. O cativeiro afetivo é destino certo para todos aqueles que resistem a assumir o protagonismo de suas vidas.

Uma relação, de qualquer natureza, deixa de ser saudável quando uma das partes se responsabiliza ou é responsabilizada pelo sentir do outro. Não é um desencorajamento para a sensibilidade ou para a empatia, mas um convite ao autocuidado. Esse conceito de equilíbrio emocional é essencial para que as relações não se transformem em prisões emocionais, onde o controle e a dependência suprimem a liberdade e o crescimento mútuo.

O primeiro passo para a libertação está na retomada da identidade individual. Em contextos de crise, voltar-se para a relação fundamental consigo mesmo e com o Criador é o alívio do fardo. Somente ao recuperar nossa essência e nos reconectar com o que realmente somos, conseguimos fortalecer nosso núcleo interno e reencontrar o equilíbrio. Essa reconexão é vital para que possamos resistir ao impulso de nos dissolver nas demandas e expectativas dos outros, especialmente em um mundo caracterizado pela “liquidez” das relações, como descrito por Zygmunt Bauman.

Para que possamos nos relacionar de forma plena, é necessário termos um núcleo interno forte e bem delimitado. Bauman nos alerta sobre os perigos de uma modernidade líquida, onde as identidades e os relacionamentos são instáveis e facilmente dissolvidos. Quando nosso núcleo é fluido, sem forma definida, corremos o risco de fundir nossa identidade ao coletivo, perdendo o sentido de quem somos. Sem esses limites, deixamos de existir como indivíduos e nos tornamos apenas reflexos das expectativas e demandas externas. É essa “liquidez” que torna as relações efêmeras e superficiais, enquanto a solidez de um núcleo forte nos permite manter nossa individualidade e criar vínculos mais profundos.

A verdadeira liberdade emocional e espiritual está diretamente ligada à capacidade de conhecer a si mesmo e viver de forma autêntica. “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32). Isso significa que, tanto no campo espiritual quanto nos relacionamentos, só podemos crescer plenamente quando não estamos presos às expectativas e emoções alheias. Fortalecer nosso núcleo interno é o que nos permite nos relacionar com o outro sem perder nossa própria essência. Em um mundo líquido, onde as fronteiras entre o “eu” e o “outro” são constantemente diluídas, é ainda mais importante que essas delimitações sejam claras e firmes.

O amor verdadeiro, por sua vez, exige que saibamos equilibrar o cuidado por nós mesmos e pelos outros, como ensina a máxima “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22:39). Esse equilíbrio só é possível quando os limites pessoais estão claros, permitindo que o cuidado com o outro não venha à custa da nossa própria identidade. Relações saudáveis são construídas quando ambos mantêm seus núcleos individuais fortes, permitindo uma troca autêntica e não a fusão que leva à perda de si mesmo. Quando os indivíduos têm limites bem definidos, há espaço para o crescimento mútuo e não para a dependência emocional que caracteriza muitas das relações líquidas da modernidade.

A interpretação popular da frase “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”, do clássico O Pequeno Príncipe, muitas vezes encoraja laços de dependência emocional, nos quais uma pessoa se sente responsável pelas emoções do outro. No entanto, cada um deve assumir a própria vida e emoções, respeitando os limites do outro e os seus próprios. “Tome a sua cruz e siga-me” (Mateus 16:24) é um chamado para assumir essa responsabilidade individual, garantindo que nossos limites sejam respeitados e não ultrapassados em nome de uma falsa conexão ou dependência.

Bauman descreve que, na modernidade líquida, a falta de solidez nas relações leva as pessoas a buscar constantemente preenchimento externo, o que resulta em vínculos frágeis e temporários. Em um mundo apressado e desconectado do autoconhecimento, muitas vezes buscamos no outro aquilo que nos falta internamente, o que resulta em desencontros e expectativas não correspondidas. Quando nosso núcleo é fluido, tentamos preencher nossos vazios fundindo-nos aos outros, o que inevitavelmente leva a frustrações. Relações saudáveis requerem que sejamos sólidos em quem somos, dedicando-nos ao “artesanato” da construção afetiva, que exige tempo, paciência e esforço. Esse trabalho de autodefinição e autoconhecimento é o que fortalece os laços e evita a dissolução de nossa individualidade em um mundo líquido.

Além disso, o perdão é uma ferramenta fundamental para manter nossos limites intactos e nossa paz interior. “Perdoai, e sereis perdoados” (Lucas 6:37) lembra que o ato de perdoar é uma maneira de curar a si mesmo, libertando-se das amarras emocionais que podem nos aprisionar em ciclos de dor. Ao perdoar, também reforçamos nossos limites, permitindo que nossas relações sejam reconstruídas sobre bases mais saudáveis.

Portanto, assumir o protagonismo da própria vida, definir claramente nossos limites e reconhecer as responsabilidades emocionais de cada um são essenciais para evitar o cativeiro afetivo. Somente com um núcleo forte e bem delimitado podemos construir relações baseadas na liberdade, no respeito mútuo e no crescimento, sem perder a nossa essência no processo. Ao nos reconectarmos com nós mesmos e com o Criador, encontramos o alívio necessário para enfrentar as crises e nos libertarmos emocionalmente, escapando da liquidez da modernidade que dissolve identidades e laços.

Assim como o filósofo que lamentava a impossibilidade de ver o mesmo rio duas vezes, também lamento as versões de mim que não mais existem. Elas fluíram, como as águas, levando consigo parte do que fui. E, embora eu aceite o curso natural das mudanças, há em mim uma nostalgia pelo que se foi, por quem eu fui — e por quem, nas minhas relações, já não posso ser.

09/10/2024

Recentemente, tenho pensado um bocado sobre o que chamo de “Efeito Midjourney”. Esse termo refere-se à sensação de pedir algo com clareza e ainda assim receber uma versão distante ou incompleta do que foi solicitado. É como se, apesar do esforço para ser claro, o resultado nunca correspondesse exatamente às expectativas. Esse termo faz referência à experiência com inteligências artificiais que geram imagens ou respostas, mas poderia facilmente se aplicar a várias situações do dia a dia. Por exemplo, imagine que você peça a uma IA para criar uma imagem de um cachorro brincando no parque, mas receba uma imagem onde o cachorro está apenas sentado, sem nenhuma expressão de alegria ou movimento ao redor. A energia da cena, a felicidade do cachorro correndo, e os elementos que transmitiriam a sensação de diversão no parque se perdem, resultando em algo muito menos impactante do que o esperado. Embora a essência do pedido esteja lá, muitos detalhes se perdem, resultando em algo menos impactante e frustrante.

O “Efeito Midjourney” não se limita à tecnologia, ele também ocorre nas interações humanas. Assim como com IA, as falhas de comunicação humana frequentemente resultam da interpretação subjetiva, levando a resultados que não correspondem às expectativas. Em algum momento do processo, algo se perde, e o que é entregue não reflete a essência do que foi pedido. Por exemplo, imagine que você peça a um colega de trabalho para preparar um relatório detalhado sobre as vendas do último trimestre, incluindo análise de tendências e recomendações. No entanto, ele acaba entregando apenas um resumo com os números gerais, sem a análise solicitada. Embora relacionado, o resultado não atende ao que foi pedido devido à falta de clareza ou compreensão. Isso me faz refletir sobre a comunicação: ela é, sem dúvida, uma via de mão dupla. Como emissor, preciso ser o mais claro e detalhado possível, mas o receptor também tem a responsabilidade de prestar atenção, fazer perguntas e garantir que compreendeu o que foi solicitado.

Ao pedir modificações em imagens, muitas vezes recebemos versões novas que corrigem problemas, mas perdem elementos positivos no processo. Esse “Efeito Midjourney” também ocorre nas interações humanas: ao tentar melhorar algo, corrigimos falhas, mas acabamos perdendo detalhes valiosos que estavam presentes antes.

Na prática, percebo que, na correria do dia a dia, todos nós tentamos otimizar tempo, mas, nesse processo, a qualidade da comunicação acaba sendo comprometida. Por exemplo, ao delegar tarefas rapidamente, pode ocorrer um erro simples, como esquecer de mencionar um prazo, resultando em atrasos evitáveis. Além disso, quando enviamos mensagens rápidas de texto ou e-mails sem muitos detalhes, esperamos que o outro lado entenda automaticamente nossas intenções, o que frequentemente gera mal-entendidos. Tanto o emissor quanto o receptor acabam cortando caminhos. O receptor, pela correria do dia a dia, também não toma nota do que foi dito ou acaba ouvindo apenas o que quer, e, ao fazer isso, ambos perdem a profundidade necessária para compreender e entregar o que foi solicitado.

Acredito que, para superar o “Efeito Midjourney”, devo adotar algumas estratégias que podem ser aplicadas em situações do cotidiano, como reuniões de trabalho ou delegação de tarefas. Ser mais claro, fornecer exemplos e explorar diferentes formas de expressar o que espero podem ajudar o outro lado a entender melhor minhas expectativas. Por exemplo, ao pedir uma tarefa específica, posso listar os passos principais ou criar um esboço para garantir que a outra pessoa compreenda exatamente o que é necessário. Além disso, uma estratégia eficaz é pedir ao receptor que repita com suas próprias palavras o que entendeu, garantindo que estamos alinhados. Ao mesmo tempo, a escuta ativa precisa ser reforçada. Por exemplo, durante reuniões, devo garantir que quem está recebendo a mensagem possa fazer perguntas, esclarecendo pontos que possam ter ficado ambíguos, e também esteja preparado para tomar notas e prestar atenção plena ao que é discutido. Para evitar frustrações, é necessário desacelerar e valorizar a troca genuína de informações. Afinal, a comunicação eficiente não apenas ajuda a alcançar os resultados desejados, mas também promove um ambiente de trabalho colaborativo e produtivo, onde todos se sentem ouvidos.

Para pensar

A dificuldade de ser plenamente compreendido me faz lembrar as parábolas que Cristo utilizava para se comunicar de forma didática. Mesmo quando Ele se esforçava para tornar a mensagem acessível e clara, muitas pessoas ainda assim não compreendiam. Isso ilustra bem como, mesmo utilizando estratégias didáticas e exemplos claros, é difícil garantir que todos compreendam a mensagem da maneira pretendida. Assim como nas situações modernas, é essencial adaptar a mensagem ao público e repetir de diferentes formas para garantir o entendimento. Seja ao delegar uma tarefa ou explicar uma ideia complexa, adaptar e repetir são estratégias fundamentais para uma boa comunicação. Minhas mensagens não se comparam às de Cristo em importância, mas, como Ele, muitas vezes precisamos empregar diferentes estratégias para sermos compreendidos. Assim como as parábolas ilustravam conceitos complexos de forma acessível, devemos usar exemplos práticos, repetir a mensagem de diferentes maneiras e confirmar a compreensão do receptor para superar os desafios modernos da comunicação e evitar o ‘Efeito Midjourney’.

08/10/2024

Segundo a professora Lúcia Helena Galvão, se temos um vício, é porque há algo nele de que gostamos, talvez até bastante. Esses vícios costumam trazer algum tipo de conforto ou satisfação, mesmo que de forma prejudicial. Podemos sentir uma sensação de alívio ou uma fuga temporária dos problemas, o que nos faz querer manter esses comportamentos.

Os vícios estão ligados aos nossos desejos, mesmo que nem sempre percebamos isso conscientemente. Embora possam ser prejudiciais, esses hábitos trazem uma sensação de conforto momentâneo. Precisamos entender o que nos atrai nesses vícios para compreender por que continuamos com esses comportamentos. Além disso, precisamos ver como esses comportamentos se conectam às nossas emoções mais profundas. Compreender essas conexões é essencial para que possamos tomar as rédeas de nossas escolhas.

Freud nos ensina que nossa mente é formada por três partes: o id, o ego e o superego. O id é a parte que busca prazer imediato e age por impulso. O superego é como uma bússola moral, tentando nos guiar para fazer o que é certo e impor regras e limites. Já o ego é quem tenta equilibrar as demandas do id e do superego. Muitas vezes, nossos vícios surgem desse conflito interno, em que o id quer satisfação imediata e o superego tenta nos impedir de fazer algo errado. Esse equilíbrio é complicado, e nossos vícios mostram claramente o quanto é difícil controlar nossos desejos e encontrar harmonia dentro de nós mesmos.

Além desse conflito interno, existem partes da nossa mente que não percebemos claramente e que acabam influenciando nossas ações, contribuindo para nossos vícios sem que percebamos. Camadas de desejos, medos e contradições no subconsciente nos fazem agir de maneiras que não entendemos totalmente. É por isso que nossos vícios e defeitos, muitas vezes, se manifestam como expressões de algo que está escondido em nossa mente. Reconhecer essas camadas nos ajuda a perceber que nossos comportamentos são mais complexos do que parecem à primeira vista.

No final, tudo está ligado ao desejo. A Bíblia, na Carta de Tiago, diz que somos tentados pela nossa própria cobiça. Quando essa cobiça cresce, ela pode nos levar ao pecado, e o pecado acaba gerando consequências ruins. Esse ciclo de desejo, vício e consequência mostra como é fácil cair em padrões prejudiciais quando não controlamos nossos impulsos. O vício começa com um desejo que, se não for controlado, pode se transformar em um comportamento prejudicial, levando à autodestruição e a resultados negativos para nossa vida.

Os vícios também afetam profundamente nossas relações, tanto conosco quanto com os outros. Por exemplo, uma pessoa com vício em álcool pode acabar se afastando de amigos e familiares devido ao comportamento impulsivo e aos conflitos gerados, prejudicando as relações e criando um ciclo de isolamento e solidão. Esses hábitos afetam a maneira como interagimos com o mundo e estão relacionados às nossas inseguranças e expectativas não atendidas. Assim, o vício não é apenas algo interno; ele se reflete em nossas relações, impactando nossos laços e a capacidade de nos conectarmos de forma saudável com os outros.

Freud sugere que justificamos nossas falhas com base em coisas que aconteceram no passado. Alfred Adler, por outro lado, acredita que nossos comportamentos estão ligados ao futuro, às metas que temos e aos sentimentos de inferioridade que carregamos. Adler explica que nossos vícios podem ser tentativas de encontrar nosso valor e nos sentirmos aceitos, mesmo que essas tentativas sejam ineficazes. Muitas vezes, nossos hábitos ruins são maneiras de tentar superar o medo de não sermos bons o suficiente ou de falharmos em alcançar nossos objetivos. Assim, ao olhar para nossos vícios, é essencial entender que muitas dessas escolhas têm a ver com nossas inseguranças e com a forma como enxergamos nosso próprio valor.

Novamente, como disse a professora Lúcia Helena, se temos um vício, é porque gostamos de algo nele. Precisamos encarar a verdade de que existe uma satisfação, mesmo que momentânea, que nos impede de abandonar aquele comportamento. Essa aceitação inicial é essencial para podermos seguir em frente e buscar alternativas mais saudáveis.

Antes de nos julgarmos com severidade, precisamos nos entender e nos aceitar. Entender por que mantemos certos hábitos é o primeiro passo para superá-los de maneira eficaz. A culpa e o julgamento apenas dificultam nosso crescimento, nos afastando das possibilidades de mudança. Precisamos nos aceitar como somos, com nossas fraquezas e defeitos, para buscar uma transformação verdadeira e duradoura, que venha da compreensão e não da punição. Aceitar a si mesmo não é justificar os vícios, mas reconhecer que somos humanos e que todos temos dificuldades, e isso nos abre as portas para o crescimento.

Uma das maiores armadilhas do mal é nos fazer acreditar que não somos dignos do amor de Deus, o que é um grande engano. Ele nos escolheu há muito tempo. Vamos escolher a Ele também. Como Tiago ensinou, devemos refletir sobre nossas ambições para controlar nossos pensamentos e evitar comportamentos prejudiciais. Para isso, podemos começar identificando nossos objetivos e questionando se eles estão alinhados com nossos valores. Assim, podemos definir pequenas ações diárias que nos ajudem a mudar nossos hábitos e viver de acordo com nossas crenças. Devemos lembrar que, embora nossas falhas possam nos afastar do caminho certo, sempre há uma chance de mudar, aprender e evoluir.

Bem-aventurado é aquele que não se condena naquilo que aprova. (Romanos 14:22)

Portanto, busquemos reconhecer as causas dos nossos vícios, aceitarmos nossas fraquezas e nos comprometermos com o caminho da transformação. Cada pequeno passo em direção ao autoconhecimento e ao controle de nossos desejos nos aproxima de uma vida mais plena e conectada, tanto com os outros quanto com nós mesmos.

07/10/2024

📍A caminho do aeroporto, em Curitiba.

Estou escrevendo estas palavras a caminho do aeroporto, após uma incrível experiência no RecrutaTech, onde participei como palestrante. Voltei a Curitiba, uma cidade que ainda conheço pouco, mas que me encanta cada vez mais pela sua organização, cordialidade, limpeza e pela forma como combina o moderno com a história. Quero compartilhar um pouco dessa jornada com vocês.

Ontem, tive a honra de abrir o evento RecrutaTech com um keynote, no qual falei sobre os impactos da Inteligência Artificial no planejamento de carreira, abordando tanto as oportunidades quanto as ameaças que ela apresenta. Compartilhei como a IA tem transformado a forma como faço meu trabalho, redefinindo minhas atividades. Dei o exemplo da minha nova rotina de organizar minhas ideias “conversando” com o GPT, pelo Bluetooth do carro, da mesma forma como converso com meus amigos e minha família ao telefone. Falar e escrever sempre foram formas eficazes de “trazer ideias ao mundo”, e esse novo hábito está me ajudando a “criar mais”.

Como oportunidade, a IA pode automatizar tarefas repetitivas, liberando as pessoas para se concentrarem em atividades mais criativas e estratégicas. Além disso, pode aumentar a produtividade e abrir novos campos de trabalho, como o desenvolvimento de soluções inovadoras e o aprimoramento de processos empresariais.

Por outro lado, a IA também pode ser uma ameaça, especialmente pelo impacto no mercado de trabalho, com a substituição de algumas funções humanas pela automação, e pelos desafios éticos envolvidos, como o uso indevido de dados e a criação de vieses nos algoritmos. Por exemplo, já houve casos em que algoritmos de IA, utilizados em processos seletivos, discriminaram candidatos devido a vieses nos dados de treinamento, prejudicando a diversidade e a inclusão nas empresas. Cabe a cada um de nós escolher como encarar a IA.

Sempre digo que toda história pode ser contada como uma de “vitória e superação” ou de “derrota e tristeza”. A escolha de qual perspectiva adotar, mais uma vez, é de cada um.

A recepção à minha fala foi muito positiva. Muitas pessoas me procuraram para agradecer pelas palavras e tiraram fotos comigo, e sou realmente grato por tanto carinho. Durante a palestra, falei sobre algumas das minhas dificuldades, e foi incrível ver como compartilhar minhas fraquezas me ajudou a me conectar com as pessoas e a criar uma oportunidade de sermos fortes juntos. Mencionei o fato de quase ter perdido a vida durante a COVID, e vi nos rostos das pessoas que a pandemia ainda deixa marcas profundas. Compartilhar minha dificuldade de sair de casa para estar em Curitiba, devido à indisponibilidade do aeroporto, também gerou empatia, algo que realmente “aqueceu meu coração”.

Enfatizei que, em tempos de IA, o mais importante é resgatar nossa capacidade de sermos humanos. Quando vamos a um médico, por exemplo, é essencial sentir que estamos sendo realmente ouvidos, em vez de receber um diagnóstico acelerado e superficial. Nas tarefas que exigem cálculos complexos, processamento de grandes volumes de dados e execução de ações repetitivas de forma incansável e precisa, perdemos para as máquinas. Mas é a nossa humanidade que nos diferencia.

Também destaquei que nossos resultados são obtidos conforme as dores que aliviamos, e não apenas conforme os problemas que resolvemos. A remuneração que alcançamos está diretamente ligada à raridade de nossas “ofertas ao mundo” e à utilidade percebida nelas, um conceito que resumi em duas palavras: “raridade útil”. Usei o exemplo de um dentista e seu preço para uma limpeza de dentes, destacando o incrível acréscimo de valor quando alguém tem dor de dente e há apenas um dentista de plantão no fim de semana. Se você possui uma habilidade rara que resolve uma necessidade importante no mercado, seu valor aumenta naturalmente. Aconselhei as pessoas a refletirem sobre como podem se tornar únicas e úteis.

Sobre planejamento, mencionei que, em níveis pessoais, costumamos planejar onde queremos ir, o que queremos ter e o que queremos fazer. No entanto, esse tipo de planejamento frequentemente falha porque se concentra apenas nos resultados externos, sem considerar quem precisamos nos tornar para alcançá-los.

Quando focamos no “ser”, desenvolvemos as qualidades e habilidades que sustentam nossas conquistas, o que leva a resultados mais duradouros e significativos. Por exemplo, podemos nos tornar mais empáticos, reforçar competências, corrigir desvios ou superar vícios. Em tempos de IA, nossa alteridade, nossa capacidade de enxergar o outro, é o que realmente nos diferencia.

Como cristão, acredito que é o Ágape – o amor incondicional e altruísta, que desloca nosso eixo de felicidade de nós para os outros – que nos salva, tanto no presente quanto no eterno.

Estou a caminho do aeroporto e estou feliz. Sinto que, ao ajudar os outros a planejar um pouquinho de suas carreiras, reforço e me qualifico ainda mais para planejar a minha própria. Durante minha fala, destaquei a importância de sermos humanos em um mundo cada vez mais tecnológico, de buscarmos a ‘raridade útil’ em nossas habilidades e de valorizarmos o amor e a empatia. Espero que essas reflexões possam inspirar a todos a construir carreiras mais alinhadas com o que realmente somos.

Obrigado, Curitiba. Espero que até breve!

06/10/2024