Devemos ser justos. Ser bons, e não bonzinhos ou bobos.
Mas, o que significa ser justo? Passei a pensar mais nisso depois de um desafio que enfrentei na minha empresa.
Justiça envolve equidade (não simplesmente igualdade), retidão e moralidade. Esses princípios se aplicam tanto nas leis quanto nas relações humanas e na distribuição de recursos. No dia a dia, esses conceitos são frequentemente postos à prova.
Como podemos ser justos, especialmente em contextos profissionais? Parece uma pergunta simples, mas não é. Se você discorda, te desafio a assistir a série de aulas do professor Michael Sandel, e até mesmo se concorda, assistir poderá aprofundar sua compreensão.
Quando alguém comete um erro ou conflito surge no trabalho, como devemos reagir? A pessoa deveria ser penalizada proporcionalmente ao seu ato (justiça retributiva) ou o foco deveria ser na sua reabilitação para mudar seu comportamento (justiça restaurativa)? Percebe que não é teoria, mas questões práticas e urgentes.
Ao considerar atos errados, devemos examinar o contexto, as capacidades e as origens do indivíduo ou focar apenas em seu comportamento? E quando alguém realiza algo positivo na empresa, quem merece mais reconhecimento: aquele que superou maiores obstáculos ou aquele cujas contribuições são mais tangíveis?
Considerando a distribuição de recursos – incluindo nossa atenção e paciência – dentro da empresa, como deveríamos proceder? Dividir tudo igualmente, atribuir mais àqueles com maiores necessidades, ou recompensar mais quem mais contribuiu?
Outro dia, estava tentando implantar uma mudança nas práticas da minha empresa. Como acontece quase sempre, fui questionado. O argumento questionador não tinha relação com o que eu estava tentando fazer, mas refletia sobre a “coerência” (na verdade, sobre justiça) em relação a outras medidas também relevantes que, segundo quem me questionava, deveriam estar sendo tratadas, mas não estavam.
Percebo agora que a pessoa que estava questionando, na verdade, se sentia injustiçada. E a injustiça paralisa. Supostamente, em algumas das nossas relações, como na minha empresa, temos o poder para impor nossas posições sem justificar. No entanto, imposição dificulta a adesão. Além disso, o poder é menos poderoso toda vez que é manifestado de maneira explícita. Dar uma “carteirada” não é expressão de poder, mas, sim, da falta dele.
Sabendo que estou sendo justo, ou pelo menos tentando, não me incomodo de justificar. Mas, justificar o tempo todo cansa. Às vezes, sinto-me incomodado por as pessoas que me conhecem tão bem ainda não acharem que sou justo. Lembro-me que ser “questionador” é um dos atributos que mais valorizo em mim, logo, não faz sentido deixar de valorizar também no outro. Ironicamente, não seria justo.
Alinhamento de propósitos, depois de critérios do que é justo, é o que autoriza autonomia de atuação. Por outro lado, desalinhamento de propósitos, e a falta de clareza de critérios, é o que paralisa.
Entre a paralisia total e a fluência que desejo, há uma infinidade de estágios mais lentos ou mais acelerados. Refletindo, o caminho para “acelerar” é garantir a prevalência da justiça, mas, além disso, a percepção clara dela.