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“Não precisa ter medo, é só me respeitar!”

Quem cresceu na “vila” certamente conhece essa expressão, comumente usada por aqueles que, supostamente, detêm poder suficiente para aplicar algum tipo de punição.

Interessante é que essa expressão possui uma extensão óbvia, embora sutil.

“Mas, se não me respeitar, é bom você ter medo.”

A capacidade de punir é uma fonte natural de poder. Ela envolve fazer com que alguém aja contra a própria vontade. O filósofo francês Michel Foucault explorou amplamente como o poder e a vigilância se entrelaçam em seu conceito do “panóptico”. Nesse modelo, a vigilância é uma forma de poder que não precisa ser constantemente demonstrada para ser efetiva.

O problema é que o poder se enfraquece a cada vez que é explicitamente exercido. Quando alguém precisa ostentar sua autoridade para demonstrar poder, torna-se evidente que não é tão poderoso quanto quer parecer. O verdadeiro poderoso é “respeitado” sem a necessidade de “cobrar respeito”.

Daí vem a ideia de que, ao invés de expressar poder por meio de punições frequentes e públicas, é mais estratégico buscar alternativas mais sutis, como a vigilância.

Vigiar mais para punir menos, segundo Foucault.

Mas vigiar pode ser monótono. Para o poderoso, especialmente o sádico, punir pode ser mais satisfatório. Então, o que fazer?

A solução é criar símbolos de poder.

Símbolos de punição, como o “cantinho do castigo” na escola, ou, para quem tem a minha idade, a varinha corretiva dos pais.

A execução da punição machuca o corpo, enquanto o símbolo da punição afeta a alma.

No entanto, os símbolos de poder só são eficazes se não houver dúvidas sobre a aplicação da punição. As leis só funcionam se forem efetivamente cumpridas. A impunidade leva ao caos.

Como então vigiar de maneira menos tediosa?

Foucault oferece uma solução: criar símbolos de vigilância. Proporcionar às pessoas a dúvida sobre se estão ou não sendo observadas. Imagine as torres de observação nos centros dos presídios, onde “de lá, tudo pode ser visto”, mas também, “nelas, nada se vê”. Os prisioneiros vivem sob a constante incerteza de estarem sendo observados, mesmo sem evidências claras disso.

Parecer vigiar mais, para poder vigiar menos e quase não precisar punir.

Efeito Panóptico. Um nome elegante para a evolução do poder.

Lembra-se daquela história da fábrica que melhorou sua performance de produção apenas por ter estabelecido e monitorado alguns indicadores…

“Não precisa ter medo. É só me respeitar”

De as pessoas a sensação de que estão vigiadas; para que não precisar, de fato, exercer a vigilância; para evitar o desgaste de punir ativamente.

27/04/2024
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