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Precisamos conversar! Me dá uns minutinhos da tua atenção? Sei que o tempo anda curto e tua atenção é um recurso escasso e valioso. Mas, escrevi esse texto especialmente para você. Aliás, deixe-me ser justo: você tem mostrado muito mais disposição para a conversa do que eu.

O que realmente significam os textos que lemos ou escrevemos, e as mensagens que recebemos ou enviamos? Sempre existe o que foi dito, o que se quis dizer, o que não foi dito e o que faltou dizer.

Cada significado é profundamente individual; o seu será sempre diferente do meu. E precisamos aceitar isso, não há outra opção. Desculpe!

Recentemente, abordei a certeza e a dúvida. Dei ênfase à certeza para destacar a importância de acolher mais dúvidas, um exemplo claro do nosso hábito de valorizar um aspecto em detrimento de outro. A imparcialidade passou bem longe. Alguém poderia interpretar aquele texto isolado e pensar que não gosto da certeza, mas não é bem assim. Um texto é apenas um recorte da realidade, não a realidade completa.

Transcrevi um poema recentemente. Talvez você tenha questionado minha intenção ao publicá-lo. Honestamente, não tinha uma mensagem específica em mente; o encanto das palavras e seu impacto foram o que me motivaram. Você pode pensar que havia uma “mensagem escondida”, mas se existe, está bem oculta até para mim.

Cada texto, cada mensagem, cada fala, oferece muito mais do que seu conteúdo explícito. Cada palavra traz um peso de significados que são sempre complementados por ideias inevitavelmente ausentes.

A verdadeira profundidade está sempre além do óbvio, escondida nas sombras das palavras não ditas.

A impossibilidade de atribuir um significado pleno às palavras intensifica o problema do binarismo — aquele do ausente-presente, da esquerda-direita, do preto no branco.

Em tópicos sensíveis como política, religião e futebol, é comum que as pessoas escolham um lado e rejeitem completamente o outro, demonstrando como o binarismo pode empobrecer nossa compreensão e até nossa vontade de compreender. Talvez não devêssemos evitar esses temas; o binarismo realmente nos afasta.

Discussões raramente são apenas entre uma coisa ou outra; envolvem tanto o que está presente quanto o que está ausente. O que está ausente, o implícito, é frequentemente mais significativo e às vezes mais revelador. Entender o todo requer mais do que ouvir as palavras; exige sentir o silêncio.

Interpretar um texto, ou a falta dele, sem considerar o contexto em que foi criado ou omitido, é um desafio honesto e impossível de completar.

Compreender as motivações e o contexto do autor é crucial. O que não é mencionado, o que completa o contexto, é tão vital para a interpretação quanto o que está explícito. Um texto, desprovido de contexto, serve apenas como pretexto para justificar o que muitas vezes é injustificável.

Somos tecidos pelas histórias que lemos e pelas vozes que omitimos.

A questão vai além da empatia; trata-se principalmente de aceitação e também da sobrevivência nossa, dos outros e das nossas relações, incluindo a nossa.

Ideias binárias como quente e frio, esquerda e direita, presença e ausência, são comumente usadas para nos fazer perceber o mérito de uma pela condenação da outra. A economia clássica, focada na escassez, muitas vezes ignora isso e constrói modelos baseados em uma racionalidade ilusória. Daí o encanto pela economia comportamental, que reconhece nossa racionalidade limitada.

O binarismo é severo e cruel. O mundo não se divide apenas em preto e branco, azul e vermelho. Os tons são infinitos, muito além do que podemos perceber.

Derrida, o filósofo que buscava desconstruir textos filosóficos, é alguém que precisamos conhecer melhor para lidar bem com os momentos em que pensamos que fomos plenamente compreendidos ou incompreendidos.

Nossa comunicação vai além das palavras; reflete-se também em nossas ações. Ronaldo Nazário e Ronaldinho Gaúcho, cada um com seu estilo único, mostram que diferentes abordagens podem ser igualmente eficazes e encantadoras.

Na prática, nunca compreendemos algo totalmente, nem somos completamente entendidos.

Questionar mais, afirmar menos.
Informar mais, deduzir menos.
Aceitar mais, julgar menos.
Viver mais, porque, afinal, temos pouco domínio sobre a expectativa de morrer menos.

Entender isso ajuda a formar conexões mais autênticas e informadas, tanto pessoalmente quanto coletivamente. Isso pode ajudar você também. Não para que me entenda, mas para que me aceite mais. Não para que você ou eu mudemos, mas para que possamos continuar juntos.

Nunca conseguimos ver o mundo pelos olhos dos outros. No entanto, há mérito na tentativa, mesmo sabendo que vamos falhar.

Estou comprometido a tentar. Espero que você também esteja.

Se tiver algo a dizer, e sei que tem, por favor, compartilhe. Farei o possível para entender, considerando nossos pontos de vista e nosso contexto compartilhado.

18/04/2024
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