Ler é bom. Mas, nem sempre estamos preparados para a leitura.
Uma vez, algo que li me deixou tão impactado que minha criatividade simplesmente despencou. Confesso, desde então, nutro um certo rancor pelo autor da obra, o coitado!
Ele dizia: ao escrever códigos de computador, dê atenção especial aos nomes. Afinal, bons nomes tornam o código mais compreensível.
O problema é que batizar as coisas revelou-se um desafio titânico. Perdi a conta de quantas horas “investi” (melhor considerar investimento do que desperdício) em busca dos nomes perfeitos e, enquanto isso, negligenciando tudo o mais. Paralisado por análise!
Simplificando, a “paralisia por análise” é uma praga comum entre nós, criativos, que, ao melhorarmos repentinamente, perdemos a coragem de entregar algo abaixo do nosso potencial. Sem essa tal “coragem”, paralisamos por completo.
Por tentar fazer melhor, acabamos por não fazer nada. Pior, nos tornamos alvo de piadas de gente que nunca se esforçou para melhorar e, por isso mesmo, não conhece a paralisia. Eles entregam, consistentemente, trabalhos medíocres.
Não consigo nem contar quantas vezes fui vítima dessa paralisia. Vejo constantemente bons profissionais paralisando também. Conheço gente que deixa de fazer coisas importantes em suas vidas porque não encontrou “a melhor maneira”. Gente que não estuda porque não acha o curso perfeito. Por não encontrar o melhor, acabam por não fazer nada.
Paralisar por análise é um veneno para a inovação e quase sempre um destruidor de valor. Nos meus tempos de “jogador de xadrez”, frequentemente me pegava pensando demais e, por fim, quase em desespero, escolhendo a jogada que menos havia analisado, para então descobrir que era a pior possível.
Nada que nos paralisa vale a pena. O antídoto, suponho, reside na disposição para experimentar. Na coragem de aceitar a imperfeição. Sempre é melhor o “continuamente melhor” do que o “certo de primeira”
Quanto à leitura, ainda persisto. Mas, quanto ao tal autor, ah, tenho minhas ressalvas. Afinal, parece que ele depositou sobre mim essa maldição da paralisia. Tenho quase certeza de que estou o acusando injustamente, mas quem disse que nossas frustrações precisam ser justas?