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Sobre conflitos…

Algumas pessoas me acusam de ser “conflituoso”, de ser alguém que discorda, mas que não aceita bem quem discorde. Quanta injustiça! Afinal, você conhece alguém que não tenha mais facilidade em concordar consigo mesmo?

Heráclito ensina que “a Guerra é o Pai de todas as coisas”. A força caótica do conflito é criativa. O desconforto do desajuste, como o acorde aumentado que encontra resolução na tônica, o ataque e contra-ataque do sexo que, da fricção, explode na calmaria do gozo. Tudo é conflito, que faz surgir o contraste que, por fim, qualifica.

Conflitar não é algo a ser evitado. Pelo contrário, é pulsão de vida. É na falta do entendimento do conflito, aliás, que a morte acontece.

O conflito não é o inimigo. Tampouco o conflituoso. Aliás, arrisco dizer que o inimigo habita na cínica calmaria disfarçada, na concordância imposta, como aquela que tenho comigo mesmo.

O conflito, claro, o honesto, promove apenas a separação que purifica. Separa o puro das impurezas. É o calor que aparta o ouro nobre do metal sem valor.

O “bom” conflito faz nascer; o “ruim” mata. Aliás, o mau conflito é o totalitário que descaracteriza e extermina o divergente.

É do conflito da tese e da antítese que nasce a síntese. O conflito é ritmo. É a dança dos extremos. É o pêndulo de todas as coisas. É lei natural, inevitável.

O conflito não é o abismo que separa; ele é o incentivo para a aliança. Aliás, o que o conflito separa é só aquilo que, por definição, não deveria estar junto. O conflito aproxima o compatível.

Algumas pessoas me acusam de “conflituoso”, de ser alguém que não aceita bem quem discorda. Pensando bem, que bom! Me acusam do que mais me orgulha: ser alguém que reconhece o que é necessário para criar.

Se você não concorda comigo, perceba, por tudo que disse, que acho isso muito bom.

02/04/2024
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