Nesta semana, experimentei algo diferente. Saí da “cidade” e vim para a “praia”. Vim até Capão da Canoa, que fica entre o mar e a lagoa.
Estou um pouco cansado, estressado (não no sentido clínico, espero) — não por estar trabalhando muito, mas porque, por mais que trabalhe, não consigo fazer tudo o que seria necessário. Gosto sempre dos desafios. No entanto, alguns, às vezes, parecem bem maiores que os outros.
Para tentar ser mais produtivo, resolvi me distanciar. Observar a “espiral” de fora. Pedi licença à família e vim para o litoral. Sou grato a Deus por ter essa possibilidade. Aliás, um dos motivos de vir à praia é para conseguir falar mais com Ele.
Entre trabalho, algumas conversas e orações, reuniões on-line, dormi e acordei, uma vez. Dormi e acordei outra vez. Ainda não consegui colocar o trabalho em dia. Amanhã voltarei para a cidade.
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05:30 da manhã. Acordei. A brisa matinal carrega consigo uma serenidade quase tangível.
Quem não gosta de uma boa reunião on-line, em um idioma que não é o nosso, para começar bem o dia, né? Depois, tomei um banho. Saí para o café.
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08:20. O ar salgado mistura-se com o aroma do café fresco, um contraste que sempre aprecio.
Mensagens a mil no telefone. Ligações. Ruído.
Recebi a notícia de que o pai de uma boa amiga morreu de forma inesperada. Mal subido, ele partiu. Curioso é que, até outro dia, a preocupação da minha amiga era com o avô. O pai estava bem. E então, ele partiu.
Um bom amigo ligou para saber se estou bem. Disse que sim. Estou bem, embora nem sempre me sinta assim.
Decidi ir até a praia, que estava deserta. O tempo, nublado. Mensagens a mil. Perguntas e respostas. Acusações. Reclamações. O mar, ali, alheio a tudo. O pai da minha amiga morreu, e o mar não se importa muito com isso.
Pedi desculpas a alguém que havia ofendido. As desculpas foram aparentemente aceitas.
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09:15. O silêncio da praia é um contraponto ao caos das mensagens não entendidas.
Sem vontade de sair da praia, ainda assim saí. Mensagens a mil. Reclamações. Então, outra notícia: uma tia, já em idade avançada, também se foi. Havia uma década que não a via. Ela não era próxima agora, mas foi na minha infância.
Essa minha tia era viúva há muitos anos. Seu marido, meu tio, irmão do meu pai, foi vitimado por um câncer na garganta. A mesma doença que quase vitimou meu pai, mas não conseguindo, voltou anos mais tarde no pulmão. Minha tia morreu. O mar continua lá. Eu que não estou.
O mundo continua. O mar não se importa com o pai da minha amiga. Também não se importa com a minha tia. Acho que também não se importa comigo, nem com as reclamações, nem com os pedidos de desculpa.
Bom, talvez o mar se importe. Mas ele não muda. Ele continua lá. Vai continuar lá. Eu que não estou mais na praia.
Pedi um tempo ao mundo para organizar a vida. Pensando bem, isso é bom. A vida passa, mas o mar fica. Eu, um dia, também não ficarei; também partirei. Talvez bem tarde, como minha tia, que para mim ainda era jovem. Talvez subitamente, como o pai da minha amiga.
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9:45. Reflexões profundas mesclam-se com a rotina do café da manhã.
Acho que, a essa altura, deveria pensar que não tenho problemas. Que o trabalho que não estou fazendo não deveria ser fonte de estresse. Mas a experiência é mais implacável que a reação.
Deus fala conosco de maneiras estranhas. Na verdade, Ele fala conosco da forma que acha que entenderemos.
Ele fez coisas que ficam. Ele também fez coisas que passam. Exceto meus problemas, esses, concluo, fui eu que fiz. Se é que de fato existem.
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10:20
Estou em Capão da Canoa, entre o mar e a lagoa. Aliás, a lagoa também está lá. Ela também está alheia.
Em tempo, estou em um café, e ao lado vejo um grupo de pastores tomando café. Eles estão falando sobre como algumas figuras bíblicas eram políticas. Acho que para justificar a ambição política deles. Estranho, pensei que eles falassem de Deus – Levíticos tinham essa função. Parece que eles não.
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10:35
Um bom amigo, irmão, me confidenciou uma notícia triste enquanto reafirmou a confiança dele em Deus. Ele fala de Deus de uma forma que me parece mais correta do que a forma como os Pastores, ao meu lado, estão falando. Eu também confio em Deus. Ele, mais que o mar e a lagoa, fica. É imutável.
Nessa semana fiz oração e jejum. O jejum não muda a impressão de Deus a nosso respeito. Muda a nossa impressão com relação a Deus.
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Deus está comigo. Eu preciso estar mais com Ele.
E o mar está lá. A lagoa também. Antes e depois do mar a lagoa estava Ele, irrepreensível, sobrevoando o Caos enquanto as trevas cobriam a face do abismo.
O perigo, reside naquilo que não vemos. Onde não há luz.
Ele fala com a estranheza que eu preciso, e eu agora vejo.
Não há mais perigo! Na verdade, Ele fez a Luz e o perigo se foi. O que preciso é ficar na Luz Dele e daí, não preciso temer mal (e mar) algum.