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Em 2022, durante uma visita a Paris, tive a oportunidade de visitar o túmulo de Napoleão.

Estamos falando de um dos homens mais influentes da história. Se não fosse por ele, a família real portuguesa jamais teria atravessado o Atlântico em direção ao Brasil. O homem redefiniu fronteiras.

O túmulo de Napoleão é impressionante. É grandioso, fazendo jus aos feitos do homem que lá descansa. Mas, confesso, o ambiente inteiro parece meio pueril. O local, embora visitado, não está entre os mais concorridos da capital francesa.

O que mais impressiona é que, como em quase todas as atrações turísticas, há, dentro mesmo das instalações, em menos de 15 metros do túmulo, uma lojinha de badulaques.

Fico imaginando o que Napoleão diria, em vida, no auge de seu poder, se soubesse que, perto do seu lugar de descanso eterno, existiria uma lojinha dessas. Que ultraje!

Mas, entre os diversos itens à venda, um em particular chamou a atenção: patinhos de borracha vestidos como imperadores. Uma combinação bizarra, embora ingênua, do ridículo e do adorável. 

Otávio, meu filho, então com 6 anos, loirinho, de olhos azuis e bochechas rosadas, que ainda aprendia a falar português e não sabia nada de francês, ficou enlouquecido. Ao tentar dizer “Pato Napoleão”, saía “Pato Napoião” de seus lábios, iluminando seus olhos e acendendo reflexões intensas em mim. Eu, com minhas manias de viajar tanto em pensamentos, fiquei abismado com a simplicidade da alegria infantil contrastada com a complexidade da vida adulta.

Constrangido, cedi. Dei um patinho para Otávio que, encantado, batizou o brinquedo de “Meu Patinho Napoleão”. Na compra, estava eu, diante de um atendente francês com ar blasé, que mal levantava os olhos enquanto registrava a venda.

Nos dias seguintes, o patinho virou companhia constante nos banhos de Otávio. “Dá o Pato!” dizia ele ao ir para o banho. O patinho, agora “Pato Napoião”, virou a “alegria do banho”. Otávio conversava com ele sobre seu dia, como se fosse um amigo, contando suas aventuras e descobertas. Contudo, com o tempo, como acontece com a maioria dos brinquedos, o pobre “patinho” foi gradualmente esquecido.

Da alegria ao esquecimento. Tal como o verdadeiro Napoleão, o patinho tinha cumprido seu papel em nosso pequeno mundo. 

Seremos esquecidos. Em pouco mais de um século nem nós, nem nossos feitos, nem as preocupações que nos roubam o sono serão relevantes. Mesmo que sejamos grandes, como Napoleão, teremos nossas histórias contadas de formas muito distantes da realidade. 

Napoleão, que um dia atemorizou nações, foi a inspiração para um brinquedo de banho, levando alegria a uma criança que mal compreendia sua magnitude histórica. 

Quer saber? Acho que Napoleão não se sentiria assim tão incomodado com a lojinha nem com o patinho. Ainda bem, nem com o Otávio! Grande, como era em importância, talvez soubesse da inutilidade da seriedade que insistimos em dar para nós mesmos.

Pensando agora, nunca cheguei a conversar com Otávio sobre a figura histórica por trás do patinho. Naqueles momentos de alegria pura, o passado não era tão importante quanto o presente. O pretérito perfeito versus o presente bem mais que perfeito.

Por onde andará, agora, o “Patinho Napoleão”? Será que ainda existe? Provavelmente não. Ele, como Napoleão, como você e eu, é ou será passado. A memória coletiva é, como nós, vítima de um “esquecimento pouco seletivo”. Passado. Passou!

06/04/2024
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