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Sobre a confiança…

A vida ensina, não é mesmo? Pois é. Sei bem disso.

Até pouco tempo atrás, eu tratava de fazer amizades de um jeito parecido com as competições olímpicas. Parece estranho, né? Mas olha só como funciona: nas Olimpíadas, em muitos esportes, os atletas mostram para os juízes uma “nota de partida”. Isso depende do quão difícil é o movimento que eles vão fazer. Se não cumprirem o prometido, são desclassificados e nem entram na avaliação.

Durante a apresentação, qualquer erro faz eles perderem pontos daquela nota inicial. Isso segue até terminar o movimento e aí vem a nota final.

Eu fazia algo parecido com todas as pessoas que conhecia. Gente que entrava na minha vida. Dava logo de cara a nota máxima e minha total confiança. Mas, como nas competições, erros e problemas iam mudando essa nota.

Com a confiança máxima, o máximo de mim, e tudo que isso significa. Se há algo que eu posso fazer para facilitar as coisas para essa pessoa, eu faço. Incluindo emprestar o que eu tenho, dar acesso as coisas que tenho acesso, compartilhar o que eu penso e sinto. Como disse, entrega total.

A questão é que esse jeito de ver as coisas complica quando a gente se decepciona muito de forma súbita. De repente, você percebe que a “nota” de alguém estava “alta demais”. E muitas vezes, isso acontece tarde, o que aumenta a frustração. Ingenuidade? Talvez.

A verdade é que o jeito como as Olimpíadas avaliam os atletas até que faz sentido. Lá, eles partem do melhor e vão ajustando. Mas, nas amizades, esse método não é tão simples. A vida real é mais complicada e as pessoas, mais imprevisíveis.

Um dos abalos sistêmicos mais perceptíveis acontece quando você tem a sensação de “dar muito”, e receber pouco, incluindo a gratidão. É a tal falta de reciprocidade (ou de noção).

Pensando bem, talvez o tio Parker estivesse mesmo certo: “Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”. Avaliar alguém mais por aquilo que a pessoa mostra do que pela confiança que damos de cara parece mais justo.

Então, que tal começarmos com um nível básico de confiança? Tipo, não esperar demais logo de início. Além disso, condicionar nosso comportamento a essa “expectativa mais baixa”.

Carl Schmitt tinha uma ideia meio dura, de ver todo mundo como “inimigo potencial”. Mas se a gente não for tão extremo, essa cautela inicial pode evitar muita dor de cabeça.

Não é sobre “desconfiar de todo mundo”. É só ir com mais calma, construindo a confiança aos poucos, e confiar em poucos. Assim, a gente pode acabar formando amizades mais verdadeiras e fortes.

03/04/2024
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