blog do

Sobre ritos de passagem…

Aprendi que papai do céu não nos permite criar um mundo em que não consigamos habitar.

Se queremos criar um mundo diferente daquele em que vivemos, se desejamos mudar algo em nossas vidas, precisamos, antes, nos preparar para viver nesse novo mundo ou vida.

A mudança do que acontece fora, primeiro precisa acontecer dentro.

Não é possível viver em dois mundos ao mesmo tempo. Ninguém serve a dois senhores. Chegar a algum lugar exige a despedida de outro.

Van Gennep fala disso quando menciona ritos de passagem. Aliás, pensando bem, acho que falamos pouco sobre isso.

Toda grande mudança na vida acontece de verdade quando passamos por um desses ritos. Algumas pessoas chamam esses momentos de “horas da verdade”.

Lembro-me bem do meu último dia de trabalho na empresa onde trabalhei durante quase 20 anos, naquele momento, a maior parte da minha vida. Lembro-me da devolução do computador. Da entrega do meu crachá. Da reunião surpresa que prepararam para mim, para me desejar sorte. Esse foi um rito de passagem marcante.

Quando saímos de casa para ir para nossa casa. O encerramento de um ano escolar e o reencontro no ano seguinte. O último dia em um emprego e o dia seguinte no emprego novo. Todos esses são ritos de passagem. Eles acontecem inevitavelmente quando reagimos no mundo.

Quando estamos agindo, protagonizando a mudança, querendo uma mudança. Quando queremos fazer algo ser real e indicar tanto nossa inadequação ao atual quanto o desejo pelo novo, devemos pensar em ritos de passagem.

Ritos de passagem são importantes porque algumas mudanças só ocorrem se forem marcantes. Eles são símbolos. Mais do que isso, são manifestos para nós, para os outros e para o mundo de que uma mudança veio, chegou e vai ficar.

Um rito de passagem tem três atos!

Primeiro, a separação.

É a hora da despedida de quem você é, do mundo que você habita, dos teus hábitos antigos, de vícios e virtudes antigas.

Se toda escolha é uma renúncia, a vida também nos impõe que habitar no mundo novo exige desocupar o mundo antigo.

A “vida dupla” não é vida.

Para viver na realidade que você deseja, é importante planejar com cuidado a despedida da realidade que você já não quer mais. Simplesmente ir embora não funciona. É necessário que o “não mais” não fique confuso com um “até logo”.

Em cerimônias de casamento, por exemplo, os momentos que antecedem o evento não são de um casal, mas de duas pessoas apartadas. O noivo não pode “ver a noiva, vestida de noiva, antes da hora”.

Em uma mudança, é quando você tira as coisas da casa antiga e finalmente vê o lugar vazio. Nessas horas, nós mesmos nos sentimos esvaziados – e isso é natural.

Segundo, a transição.

Momento curto em que você não está nem de um lado, nem do outro. Seu mundo não é uno, mas duo. Você não é uno, mas duo.

É quando, na verdade, você não está em nenhum dos dois lugares. Está em suspensão.

Em cerimônias de casamento, são aqueles momentos que antecedem a assinatura ou o altar. Você já disse adeus para quem era, mas ainda não disse olá para quem é.

Em mudanças de casa, é o momento em que você está com suas coisas em um lugar que não é nem a casa nova, nem a antiga. Está em trânsito.

Finalmente, a reintegração.

Quando você chega do outro lado. Atravessa a ponte. Assume um novo lugar. Passa a exercer um novo papel. Quando quem te conhecia, te reconhece de outra forma. Quando você se percebe de outra forma, se identifica de outra forma.

Em cerimônias de casamento, é sair de “mãos dadas depois do sim”. É a nova assinatura.

Em mudanças de casa, é a primeira noite na casa nova, a primeira refeição. O primeiro “voltar do trabalho”.

Separação. Transição. Reintegração. Ritos de passagem.

Planejar uma mudança implica planejar um rito de passagem. Sem esse rito, a mudança não acontece. Muitas mudanças significativas que as pessoas desejam não acontecem porque não planejam esses momentos.

Que mudança você quer fazer na sua vida? Você está preparado para viver um rito de passagem? A dor da despedida de onde você estava, do que você tinha, de quem você era? Dos seus antigos hábitos – virtudes ou vícios. Seu “eu” antigo?

Papai do céu não permite que criemos um mundo em que não consigamos habitar. Para indicar “prontidão”, precisamos viver a mudança que dizemos que tanto desejamos.

19/05/2024
0
Would love your thoughts, please comment.x