Sempre sinto calafrios quando escuto alguém falar em “verdade científica”.
A face filosófica da ciência aspira à verdade, mas reconhece sua inerente inalcançabilidade. Aqueles que falam de “verdade científica” desconhecem um princípio fundamental da ciência: a falseabilidade. Os mesmos que defendem a “verdade científica”, também defendem a “razão”.
Pobre “razão”! Outrora venerada durante o Iluminismo, parece ter sido gradualmente instrumentalizada. A maioria das pessoas que defende a “razão” parece não fazer isso racionalmente.
Ao tentar desmistificar, a razão paradoxalmente se transformou em um mito. Emergiu como uma nova forma de mitologia, não mais como a guardiã do progresso e do esclarecimento, mas como um veículo para eficiência, controle e dominação.
Os “donos da verdade (científica)” e da “razão (intrumentalizada)”, buscam uma nova apropriação: a cultura. Que deixou de ser social e tornou-se indústrial. Afinal, temos uma “indústria cultural”.
Consideremos o impacto da “razão instrumentalizada” na indústria cultural. Esta indústria produz um monopólio de pensamentos padronizados que, ironicamente, sufocam o pensamento crítico e a individualidade – a essência da “razão”.
Em tempos de crises globais, vemos a ciência oscilando entre ser uma fonte confiável de conhecimento e um instrumento de poder político e econômico. As redes sociais, por exemplo, tornaram-se arenas onde a ‘razão’ é frequentemente usada para validar opiniões polarizadas, mais do que para fomentar um verdadeiro diálogo construtivo.
Neste contexto, é crucial questionar não apenas a “verdade científica”, mas também como a “razão” é empregada na sociedade contemporânea. A verdadeira iluminação talvez resida em reconhecer a razão como uma ferramenta valiosa, mas imperfeita, sujeita à influência humana e ao erro, sobretudo quando está sob controle de uma “indústria”.
Cuidado! Verdade, razão e cultura, como nos apresentam, nem sempre são coisas boas.