De todas as minhas loucuras, a mais doida é a sanidade.
Encontro-me no paradoxo de sentir gratidão pelas coisas simples da vida, encantadoramente dispensado da obrigação de expressá-la verbalmente. Uma lembrança sutil, mas recorrente e presente, para mim, de que a verdadeira gratidão é melhor expressa por meio das ações e não das palavras.
Contextualizado, é fácil ver como o desejo se transforma. Quando ausente, ele se faz presente em forma de alegria. É aquela sensação de euforia que experimentamos nos momentos preciosos, aqueles que desejamos eternizar. Aliás, nesses momentos, temos ainda o presente, o próximo degrau, que é ver deslocar a fonte de felicidade para a felicidade de outra pessoa. Fazemos o que o outro precisa, completamos a falta no outro com o que nos sobra, e vemos a completude em nós com aquilo que sobra no outro. Dois em um, um encaixe perfeito em sua breve, porém eloquente intensidade.
Em um mundo onde as fronteiras entre o real e o irreal se confundem, onde o concreto e o abstrato graciosamente dançam juntos, observo de longe essa ordem que se alterna com o caos. Esse é um mundo que experimento profundamente, antes mesmo de tentar compreendê-lo.
A experiência, essa dádiva, é para quem aceita as coisas como são, dando a cada momento a importância que merece, simultaneamente eterno e finito.
Na minha “loucura mais doida”, a realidade diante dos meus olhos é um reflexo do que há tempos habitava meus pensamentos. Nós, seres criativos, damos vida ao que falamos. Depois, tornamos momentos curtos em uma vida, alongados em nossos pensamentos e recordações, sempre rememorados e emocionalmente revividos.
Esse é o papo de quem é considerado louco. No entanto, assumo total responsabilidade pela liberdade que minha insanidade me proporciona, especialmente a mais doida de todas: a sanidade.
Como expressar minha gratidão sem dizer “obrigado”? Acho que com palavras simples, como estas. Elas são imperfeitas, assim como eu, mas sinceras frente à complexidade dos meus mundos que são muitos e ao mesmo tempo um só.
Aliás, de muitas formas, esse texto é um carinho, uma daquelas coisas que não se agradece com palavras… mas com o coração pleno, numa sinfonia de sentimentos que, mesmo em silêncio, falam sempre mais alto.