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A Biblioteca dos Livros Dormentes

Ontem visitei a Biblioteca Nacional de Viena, uma das maiores e mais importantes bibliotecas históricas do mundo. Conhecida por seu acervo inestimável e arquitetura impressionante.

Um prédio magnífico, com pé-direito alto. Amplos vitrais deixam a luz natural inundar o ambiente, criando reflexos dourados sobre as prateleiras e destacando a textura envelhecida dos livros. A atmosfera é quase etérea, e caminhar pelo espaço transmite uma sensação de calma reverencial, como se cada passo fosse parte de um ritual sagrado. Livros se estendem do piso ao teto.

Livros raros, sem dúvida. Muitos carregam séculos de história e conhecimento acumulado. Agora estão inertes, restritos pelas necessidades de conservação que impedem seu manuseio, como se estivessem em exibição apenas para serem admirados à distância, preservados para proteger seu valor histórico. A biblioteca lembra, em muitos aspectos, um mausoléu imperial, com suas colunas austeras e silêncio profundo. Um lugar para prestar homenagens a algo que já foi, mas já não é, como corredores vastos e frios que guardam vestígios de um passado glorioso, mas sem vida.

Desde manuscritos medievais até primeiras edições de obras clássicas. De alguns poucos, há reproduções de páginas sob redomas de vidro. Permitem apenas uma pequena amostra de seu valor, como relíquias de um passado distante. Entretanto, o valor real para os visitantes é similar ao das caixas que imitam livros e enfeitam salas. Objetos que parecem valiosos, mas cuja função é meramente decorativa.

Milhares de livros. Todos dormentes, inertes. Como se tivessem perdido o propósito original. Talvez alguns estejam quase apodrecendo, esquecidos pelo tempo. Nada resta de sua função original. Para os gregos, seriam considerados sem virtude, desprovidos de propósito. Nenhum podia ser tocado ou folheado.

Afinal, que valor tem um livro que não pode ser lido?

Pobres e podres livros antigos. Se vontade e escolha tivessem, não escolheriam desmancharem-se nas mãos inábeis de um novo leitor a permanecerem expostos para a eterna inutilidade?

20/11/2024
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