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Sobre sermos mais humanos em tempos de IA: Reflexões sobre o que falei no RecrutaTech, em Curitiba

📍A caminho do aeroporto, em Curitiba.

Estou escrevendo estas palavras a caminho do aeroporto, após uma incrível experiência no RecrutaTech, onde participei como palestrante. Voltei a Curitiba, uma cidade que ainda conheço pouco, mas que me encanta cada vez mais pela sua organização, cordialidade, limpeza e pela forma como combina o moderno com a história. Quero compartilhar um pouco dessa jornada com vocês.

Ontem, tive a honra de abrir o evento RecrutaTech com um keynote, no qual falei sobre os impactos da Inteligência Artificial no planejamento de carreira, abordando tanto as oportunidades quanto as ameaças que ela apresenta. Compartilhei como a IA tem transformado a forma como faço meu trabalho, redefinindo minhas atividades. Dei o exemplo da minha nova rotina de organizar minhas ideias “conversando” com o GPT, pelo Bluetooth do carro, da mesma forma como converso com meus amigos e minha família ao telefone. Falar e escrever sempre foram formas eficazes de “trazer ideias ao mundo”, e esse novo hábito está me ajudando a “criar mais”.

Como oportunidade, a IA pode automatizar tarefas repetitivas, liberando as pessoas para se concentrarem em atividades mais criativas e estratégicas. Além disso, pode aumentar a produtividade e abrir novos campos de trabalho, como o desenvolvimento de soluções inovadoras e o aprimoramento de processos empresariais.

Por outro lado, a IA também pode ser uma ameaça, especialmente pelo impacto no mercado de trabalho, com a substituição de algumas funções humanas pela automação, e pelos desafios éticos envolvidos, como o uso indevido de dados e a criação de vieses nos algoritmos. Por exemplo, já houve casos em que algoritmos de IA, utilizados em processos seletivos, discriminaram candidatos devido a vieses nos dados de treinamento, prejudicando a diversidade e a inclusão nas empresas. Cabe a cada um de nós escolher como encarar a IA.

Sempre digo que toda história pode ser contada como uma de “vitória e superação” ou de “derrota e tristeza”. A escolha de qual perspectiva adotar, mais uma vez, é de cada um.

A recepção à minha fala foi muito positiva. Muitas pessoas me procuraram para agradecer pelas palavras e tiraram fotos comigo, e sou realmente grato por tanto carinho. Durante a palestra, falei sobre algumas das minhas dificuldades, e foi incrível ver como compartilhar minhas fraquezas me ajudou a me conectar com as pessoas e a criar uma oportunidade de sermos fortes juntos. Mencionei o fato de quase ter perdido a vida durante a COVID, e vi nos rostos das pessoas que a pandemia ainda deixa marcas profundas. Compartilhar minha dificuldade de sair de casa para estar em Curitiba, devido à indisponibilidade do aeroporto, também gerou empatia, algo que realmente “aqueceu meu coração”.

Enfatizei que, em tempos de IA, o mais importante é resgatar nossa capacidade de sermos humanos. Quando vamos a um médico, por exemplo, é essencial sentir que estamos sendo realmente ouvidos, em vez de receber um diagnóstico acelerado e superficial. Nas tarefas que exigem cálculos complexos, processamento de grandes volumes de dados e execução de ações repetitivas de forma incansável e precisa, perdemos para as máquinas. Mas é a nossa humanidade que nos diferencia.

Também destaquei que nossos resultados são obtidos conforme as dores que aliviamos, e não apenas conforme os problemas que resolvemos. A remuneração que alcançamos está diretamente ligada à raridade de nossas “ofertas ao mundo” e à utilidade percebida nelas, um conceito que resumi em duas palavras: “raridade útil”. Usei o exemplo de um dentista e seu preço para uma limpeza de dentes, destacando o incrível acréscimo de valor quando alguém tem dor de dente e há apenas um dentista de plantão no fim de semana. Se você possui uma habilidade rara que resolve uma necessidade importante no mercado, seu valor aumenta naturalmente. Aconselhei as pessoas a refletirem sobre como podem se tornar únicas e úteis.

Sobre planejamento, mencionei que, em níveis pessoais, costumamos planejar onde queremos ir, o que queremos ter e o que queremos fazer. No entanto, esse tipo de planejamento frequentemente falha porque se concentra apenas nos resultados externos, sem considerar quem precisamos nos tornar para alcançá-los.

Quando focamos no “ser”, desenvolvemos as qualidades e habilidades que sustentam nossas conquistas, o que leva a resultados mais duradouros e significativos. Por exemplo, podemos nos tornar mais empáticos, reforçar competências, corrigir desvios ou superar vícios. Em tempos de IA, nossa alteridade, nossa capacidade de enxergar o outro, é o que realmente nos diferencia.

Como cristão, acredito que é o Ágape – o amor incondicional e altruísta, que desloca nosso eixo de felicidade de nós para os outros – que nos salva, tanto no presente quanto no eterno.

Estou a caminho do aeroporto e estou feliz. Sinto que, ao ajudar os outros a planejar um pouquinho de suas carreiras, reforço e me qualifico ainda mais para planejar a minha própria. Durante minha fala, destaquei a importância de sermos humanos em um mundo cada vez mais tecnológico, de buscarmos a ‘raridade útil’ em nossas habilidades e de valorizarmos o amor e a empatia. Espero que essas reflexões possam inspirar a todos a construir carreiras mais alinhadas com o que realmente somos.

Obrigado, Curitiba. Espero que até breve!

06/10/2024
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