Parece evidente, mas muita gente ainda se perde nessa questão.
Já percebeu que quase todo país vivendo sob censura extrema tem a palavra “democrático” no nome? República Democrática da China… do Congo…
Eis um sinal que me faz ficar com um “pé atrás” quando alguém faz um discurso inflamado em defesa da democracia ou do tal “Estado Democrático de Direito”.
O intolerante não pode ser tolerado. Paradoxal, eu sei, mas não fui eu quem disse isso; foi Karl Popper, que, aliás, era cientista. Segundo ele, uma sociedade ilimitadamente tolerante será inevitavelmente destruída pelos intolerantes.
Nessa guerra crescente de extremos, do “nós” contra “eles”, nossos intolerantes favoritos estão mesmo defendendo a tolerância. Ou será que não é bem isso?
“Se não concordo, cale-se. Se concordo, te aplaudo.” Coisa feia! E olha que essa turma fala muito em liberdade.
É possível, embora não necessariamente confortável, conviver com quase tudo, com todos, o tempo todo. Exceto com aquilo que impeça essa convivência.
Se a SUA religião proíbe algo, proíbe apenas você. Porque ela é SUA, não NOSSA.
Se a SUA ideologia não permite certas ideias, não permite apenas para você. Porque a ideologia é SUA, não NOSSA.
Quem não ouve o dissonante não muda, não cresce, não vive. Tolerar exige adaptar-se.
Já viu alguém cancelar outra pessoa por pensar diferente? Pois é.
Intolerar é um caminho menos desagradável – para mim – mas nunca para o intolerado.
O progresso surge da convivência com o diferente. É o diverso que nos permite enxergar aquilo que nosso ego e nossos pontos cegos não alcançam.
Sou cristão. E conheço pessoas excelentes com ótimos argumentos para refutar minha fé. Tudo bem. Aliás, acreditar sem questionar é mesmo acreditar? Que fé seria a minha se não pudesse suportar ideias contrárias às que acredito?
Intolerantes, exceto os intolerantes ao intolerável – ou seja, aqueles que não permitem a tolerância alheia – são geralmente pessoas que não têm tanta certeza assim das suas próprias certezas.
Conhecer. Entender. Saber. Aceitar. Delimitar-se antes de limitar o outro.
Antes de limitar alguém, pergunte-se: estou limitando o outro ou apenas revelando minhas próprias limitações?
Os limites de nossa tolerância limitam acima de tudo a nós mesmos.