Recentemente, tenho pensado um bocado sobre o que chamo de “Efeito Midjourney”. Esse termo refere-se à sensação de pedir algo com clareza e ainda assim receber uma versão distante ou incompleta do que foi solicitado. É como se, apesar do esforço para ser claro, o resultado nunca correspondesse exatamente às expectativas. Esse termo faz referência à experiência com inteligências artificiais que geram imagens ou respostas, mas poderia facilmente se aplicar a várias situações do dia a dia. Por exemplo, imagine que você peça a uma IA para criar uma imagem de um cachorro brincando no parque, mas receba uma imagem onde o cachorro está apenas sentado, sem nenhuma expressão de alegria ou movimento ao redor. A energia da cena, a felicidade do cachorro correndo, e os elementos que transmitiriam a sensação de diversão no parque se perdem, resultando em algo muito menos impactante do que o esperado. Embora a essência do pedido esteja lá, muitos detalhes se perdem, resultando em algo menos impactante e frustrante.
O “Efeito Midjourney” não se limita à tecnologia, ele também ocorre nas interações humanas. Assim como com IA, as falhas de comunicação humana frequentemente resultam da interpretação subjetiva, levando a resultados que não correspondem às expectativas. Em algum momento do processo, algo se perde, e o que é entregue não reflete a essência do que foi pedido. Por exemplo, imagine que você peça a um colega de trabalho para preparar um relatório detalhado sobre as vendas do último trimestre, incluindo análise de tendências e recomendações. No entanto, ele acaba entregando apenas um resumo com os números gerais, sem a análise solicitada. Embora relacionado, o resultado não atende ao que foi pedido devido à falta de clareza ou compreensão. Isso me faz refletir sobre a comunicação: ela é, sem dúvida, uma via de mão dupla. Como emissor, preciso ser o mais claro e detalhado possível, mas o receptor também tem a responsabilidade de prestar atenção, fazer perguntas e garantir que compreendeu o que foi solicitado.
Ao pedir modificações em imagens, muitas vezes recebemos versões novas que corrigem problemas, mas perdem elementos positivos no processo. Esse “Efeito Midjourney” também ocorre nas interações humanas: ao tentar melhorar algo, corrigimos falhas, mas acabamos perdendo detalhes valiosos que estavam presentes antes.
Na prática, percebo que, na correria do dia a dia, todos nós tentamos otimizar tempo, mas, nesse processo, a qualidade da comunicação acaba sendo comprometida. Por exemplo, ao delegar tarefas rapidamente, pode ocorrer um erro simples, como esquecer de mencionar um prazo, resultando em atrasos evitáveis. Além disso, quando enviamos mensagens rápidas de texto ou e-mails sem muitos detalhes, esperamos que o outro lado entenda automaticamente nossas intenções, o que frequentemente gera mal-entendidos. Tanto o emissor quanto o receptor acabam cortando caminhos. O receptor, pela correria do dia a dia, também não toma nota do que foi dito ou acaba ouvindo apenas o que quer, e, ao fazer isso, ambos perdem a profundidade necessária para compreender e entregar o que foi solicitado.
Acredito que, para superar o “Efeito Midjourney”, devo adotar algumas estratégias que podem ser aplicadas em situações do cotidiano, como reuniões de trabalho ou delegação de tarefas. Ser mais claro, fornecer exemplos e explorar diferentes formas de expressar o que espero podem ajudar o outro lado a entender melhor minhas expectativas. Por exemplo, ao pedir uma tarefa específica, posso listar os passos principais ou criar um esboço para garantir que a outra pessoa compreenda exatamente o que é necessário. Além disso, uma estratégia eficaz é pedir ao receptor que repita com suas próprias palavras o que entendeu, garantindo que estamos alinhados. Ao mesmo tempo, a escuta ativa precisa ser reforçada. Por exemplo, durante reuniões, devo garantir que quem está recebendo a mensagem possa fazer perguntas, esclarecendo pontos que possam ter ficado ambíguos, e também esteja preparado para tomar notas e prestar atenção plena ao que é discutido. Para evitar frustrações, é necessário desacelerar e valorizar a troca genuína de informações. Afinal, a comunicação eficiente não apenas ajuda a alcançar os resultados desejados, mas também promove um ambiente de trabalho colaborativo e produtivo, onde todos se sentem ouvidos.
Para pensar
A dificuldade de ser plenamente compreendido me faz lembrar as parábolas que Cristo utilizava para se comunicar de forma didática. Mesmo quando Ele se esforçava para tornar a mensagem acessível e clara, muitas pessoas ainda assim não compreendiam. Isso ilustra bem como, mesmo utilizando estratégias didáticas e exemplos claros, é difícil garantir que todos compreendam a mensagem da maneira pretendida. Assim como nas situações modernas, é essencial adaptar a mensagem ao público e repetir de diferentes formas para garantir o entendimento. Seja ao delegar uma tarefa ou explicar uma ideia complexa, adaptar e repetir são estratégias fundamentais para uma boa comunicação. Minhas mensagens não se comparam às de Cristo em importância, mas, como Ele, muitas vezes precisamos empregar diferentes estratégias para sermos compreendidos. Assim como as parábolas ilustravam conceitos complexos de forma acessível, devemos usar exemplos práticos, repetir a mensagem de diferentes maneiras e confirmar a compreensão do receptor para superar os desafios modernos da comunicação e evitar o ‘Efeito Midjourney’.