Houve um tempo em que a ideia de uma essência predeterminada era quase incontestável, algo que nem Sócrates, Platão, ou Aristóteles ousariam desafiar. A crença de que um conceito preexistente dá forma à realidade, a ideia como a raiz do ser, ressoa comigo. No entanto, não posso deixar de sentir uma certa inquietação ao pensar que, se tudo já está predeterminado, talvez minha liberdade seja mais uma ilusão. Minhas escolhas, seriam elas apenas exercícios de algo já escrito?
Sartre, um nome que admito conhecer menos do que deveria, trouxe uma reviravolta a essa narrativa. Ele nos convida a ver a liberdade não apenas como um conceito, mas como uma vivência palpável. Segundo ele, nascemos como uma tela em branco, e é através de nossas escolhas que pintamos nossa essência. Com liberdade, porém, vem a responsabilidade; somos culpados não só pelo que escolhemos ser, mas também pelo que optamos não ser.
Essa noção de liberdade, de ser o arquiteto da própria essência, às vezes me assusta. Significa que não posso apontar para outros pelas falhas e cicatrizes que carrego.
Assim, permaneço dividido. Será que minhas escolhas moldam quem eu sou, ou será que quem eu sou dita minhas escolhas? Existe um ‘Eu Sou’ intrínseco em mim, ou este ‘Eu Sou’ é reservado apenas para o Criador de todas as coisas?